A Misericórdia

 

Em o “Canto Novo do Retorno”, livro de Dom Hugo Sebastião Baggio, O.F.M. é analisado em toda sua beleza, o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo que retrata o Pai misericordioso, ao receber de volta o filho que partira.

Vale a pena recordarmos esta passagem do texto bíblico, narrada em forma primorosa na Obra.

Eram dois irmãos. O mais novo pede ao seu genitor o adiantamento de sua herança e parte com a vã expectativa de conhecer novas paragens, viver experiências e usufruir melhor a vida do que trabalhando para seu Pai.

Gasta todo o dinheiro com futilidades e vê-se de repente em terra estranha, sem recursos e desamparado, sendo forçado a trabalhar como guardador de porcos que em verdade eram mais alimentados do que ele.

Reconhece seu erro e resolve voltar ao recinto de seu lar com a promessa de jogar-se aos pés de seu Pai implorando perdão.

Dom Hugo em sua obra acompanha este retorno, imaginando o que acontecia na mente daquele filho pródigo e seu justo receio de ser repelido no âmbito familiar, depois da sua partida não esperada.

É a caminhada de regresso ao ponto de partida do pecador arrependido, humilhado e ferido.

O corpo sofrido caminha titubeante, sempre com o pensamento voltado para o comportamento do Pai. Qual seria sua reação ao vê-lo sujo e maltrapilho, esfomeado, escorraçado e coberto de vergonha? Seria recusada sua volta?

Nada impede seu retorno. Por diversas vezes cai movido pela fraqueza, mas, insiste. O sofrimento é alavanca imaginária a impulsionar a caminhada. Precisa do Pai, anseia por Ele, não suporta mais a solidão.  Aspira  pelo perdão.

Ao longe, no horizonte os olhares se cruzam. O filho se arrastando e o Pai que nunca perdera a esperança de revê-lo, estático no umbral da velha casa, com os olhos úmidos de tanto derramar lágrimas de saudades.

O encontro dos dois, o abraço e choro marcam aquele momento sublime.

O pecador recebe a misericórdia sem limites, o carinho e o acolhimento do Velho Pai.

O advogado Heráclito Sobral Pinto um dos baluartes do Direito no Brasil, ferrenho zelador dos direitos humanos e que marcou época pela defesa intransigente dos transgressores da lei que buscavam seu patrocínio deixou-nos este pensamento:

— Devemos odiar o pecado e amar o pecador.

O denominado Filho Pródigo do Evangelho mereceu receber a misericórdia, sem restrições ou quaisquer outras condições.

E esta a mensagem que o Papa Francisco quer passar para nós, neste Ano da Misericórdia iniciado a 8 de dezembro de 2015, com a abertura da Porta Santa, simbolizando ser a Lei fundamental que mora no coração de cada pessoa quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra o caminho da vida.

Sejamos misericordiosos para com nossos irmãos, familiares, amigos, vizinhos, com aqueles que erram e batem em nossa porta à procura do perdão.

Neste momento, em algum lugar, alguém pensa encontrá-lo para uma reconciliação. Um pequeno mal entendido, uma palavra inadequada, um gesto impensado idêntico ao filho da parábola provocou um afastamento.

Coloque-se, a exemplo do Velho Pai numa posição de esperança e acolhimento e jamais recuse o perdão, mas, procure, também, a iniciativa de procurar o outro. Pode ser que você esteja necessitado de um perdão misericordioso.

A misericórdia é infinita e faz bem ao coração.

 

 

Helio Pinheiro da Cunha

Patrono – Guilherme de Almeida